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O último voo


I

foi sem avisar.

para alguns, disse que havia cancelado a passagem
para outros, nada precisou dizer
porque estes já não o sabiam

jurava que o destino
ajustar-se-ia ao seu desejo de ser livre
como um sujeito convencido, que peita o tempo e fala:
— Duvido!
mas ele passa
por baixo, por cima

e, se der mole, ele passa até por dentro
passa através.

II

no espaço interno, faltava tudo o que não era contingência
e, muito menos, a coragem

no espaço externo, faltava desembaraçar o mar
da terra

porque o peso das nuvens, acumuladas na janela
atormentou-se em sua angústia de chegar

(depressa).

III

e após três noites em claro
mas sem nenhuma clareza
ele vestiu o casaco novo
deixou uma carta sobre a mesa

fumou um cigarro, correndo
e partiu, rumo ao esquecimento.

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